O termo “blend” (do inglês: mistura)  é utilizado para produtos que são o resultado da combinação de vários ingredientes diferentes que, se combinados de maneira correta e harmoniosa, resultam num produto de destacada qualidade. Por exemplo: blends de chás, cafés, carnes, vinhos, e outros.

Entender alguns assuntos através de conceitos opostos é um recurso que garante condição e critérios para muitas pessoas compreenderem algo.

O que quero abordar aqui é:

O que é negociável ou não, no contexto do ensaio, para que o coro tenha um som melhor?

Se você acompanha de perto o trabalho de uma orquestra ou coro de sua preferência é porque, de muitas formas, considera o som desses grupos como referência. Verificamos facilmente que dentro do âmbito musical, grupos bem dirigidos não negociam concepção sonora!

Até coros profissionais em que os cantores são profissionais da voz e, portanto, tem características vocais peculiares e únicas, precisam trabalhar para uma homogeneidade na emissão para soar como unidade coral coerente.

Obviamente que o objetivo da existência do coro também conta, pois a qualidade do bloco sonoro está completamente ligada à finalidade de cada coro.

Mas…regentes precisam definir dentro de si a concepção sonora de seus coros.

Já cheguei a defender até mesmo a importância de uniformizar a roupa do coro – um critério objetivo para alcançar um critério subjetivo – para que isso contribuísse com a formação da homogeneidade do som! Isso porque entendo que o heterogêneo na configuração da realidade brasileira não precisa ser estimulado nem privilegiado: ele é real, perceptível e se apresenta naturalmente.  Está em nossa configuração estrutural genética, na postura, na realidade que cada um enfrenta diariamente, nos interesses em fazer parte de um coro e por fim, na voz natural de cada um.

Talvez por isso a palavra “blended” em inglês, dê melhor a ideia da mistura resultante que um bom coro deve ter, soando com simplicidade e uniformidade.

A diversidade vocal que os cantores apresentam no início dos trabalhos deve ser apenas ponto de partida.  Pode ser que a ideia da diversidade cultural e inclusão do diferente no aspecto social, permeiem as mentes dos regentes, mas esse pensamento, no contexto do som do coro que precisa ter qualidade, é uma cilada!

Com atitudes gerenciais assertivas o regente pode desenvolver a sensibilização musical de seu coro na direção da homogeneidade.

O comportamento e disposição interna de um coralista deve ser o de alguém disponível e disposto em ir adiante. Faz parte da educação musical de seu coro que cada indivíduo compreenda a responsabilidade em manter a qualidade vocal e que por vontade deseje se tornar uma unidade sonora, que seja coerente musicalmente.

Para além do âmbito musical: todos nós somos consumidores e quando compramos um produto, sabemos exatamente o que esperamos em termos de qualidade. Neste caso, qualidade é opcional e funciona apenas como um diferencial do produto, ou é obrigação inerente ao produto?

Timbre Coral Homogêno
Encare a voz de cada cantor como uma cor de tinta. Sua tarefa é harmonizar todas as cores e fazer uma obra de arte sonora!

Vamos admitir aqui que existam 2 tipos de coros: o que soa heterogêneo e o que soa homogêneo.

O som coral resultante do bloco sonoro heterogêneo:

  • É desequilibrado. Cada naipe se sobressai ao seu próprio modo. Os cantores não se preocupam com a emissão e nem com a audição do som do entorno.
  • Soa desafinado. O ajuste interno das vozes não acontece, pois a emissão não é combinada, padronizada e orientada. Uma terça afinada passa a ser uma vaga lembrança ou um sonho quase inatingível!
  • A fluência musical soa comprometida, pois todas as notas tem o mesmo peso, os fraseados são pobres, a respiração não é usada para facilitar.
  • Revela baixa sintonia musical (diferente de sintonia relacional) entre os cantores.
  • Frequentemente ouve-se “solistas” em cada naipe, uma voz que se sobressai sobre as outras. Há também muita diferença entre as expressões faciais…geralmente um indivíduo “rouba a cena”em suas expressões interpretativas.
  • É desagradável: sua audiência nem sabe exatamente dizer o porquê não gostou, mas de fato, se sente cansada no meio da terceira peça do concerto. Familiares e amigos serão mais amistosos nas análises, mas um público seleto terá incômodo para permanecer no ambiente. Pode acreditar!
Diversity People Group Team Union Concept
Um coro é formado por vozes com características individuais. Cabe ao regente transformá-las num grupo com unidade sonoridade homogênea.

O som coral resultante do bloco sonoro homogêneo. Algumas sugestões:

  • Conhecer cada um dos cantores e suas características vocais. Aqui está o fundamento para saber orientar as especificidades tanto do cantor que é tímido e não solta a voz, quanto para quem tem boa projeção vocal e frequentemente encobre o naipe ou até mesmo o coro todo!
  • Fundamental promover a sensibilidade e educação da audição dos coralistas, principalmente amadores.
  • Cantar misturados, sem blocos de naipes, em sequência de quartetos ou octetos, por exemplo. Esta estratégia cai bem em coros de níveis intermediários e avançados. Pode ser usada nos ensaios e apresentações.
  • Nos ensaios: Separar o coro em dois grupos. Proponha que um ouça o outro, e depois peça que façam observações sobre o que ouviram. Os próprios cantores precisam saber identificar os critérios musicais que já foram solicitados e ser capaz de identificar os erros através da escuta.
  • Faça um círculo com o coro em pé. Proponha que todos se virem de costas e peça que cantem…sem o contato visual com a regência e com outros cantores. O único ponto de referência deve ser o som ambiente. Portanto o ouvido será o “GPS”. Estratégia boa para buscar o equilíbrio das vozes.
  • Se o seu coro tem 4 vozes, por exemplo, conduza trechos com apenas 2  das vozes durante os ensaios (sopranos + tenores e depois contraltos + baixos, por exemplo ). Apenas uma voz em relação à outra, principalmente se o discurso harmônico do trecho for mais complexo, para desenvolver a percepção em relação à outra voz e o ajuste entre elas. As outras duas vozes devem acompanhar concentrados em suas próprias vozes e se imaginar dentro do contexto que está sendo ouvido.
  • Separe pelo menos 5 minutos do ensaio para ouvir uma peça de um bom coro que soe homogêneo e proponha que o coro levante os principais pontos em forma de diagnóstico em outros 5 minutos. Reforço que o formato apenas de áudio é ideal aqui. Os recursos do vídeo desviam o foco, que é de desenvolver a escuta! Esse tipo de sensibilização constante promove imensas mudanças, pois o coro passa a ter parâmetros de comparação. Na Academia Concerto já promovemos esta estratégia postando vídeos dentro dos grupos no Facebook e solicitando comentários sobre. As ferramentas digitais devem ser usadas semanalmente para incrementar o relacionamento e acelerar a educação musical.
  • Outra prática na Academia Concerto: grave sempre o seu coro! Ensaios e concertos! Faça-os ouvir e proponha a autoanálise. Esta dinâmica vai ajudar a desenvolver o senso crítico individual e do conjunto.

Agora vamos analisar um caso de “blend” na prática?

A Academia Concerto trouxe o coro de meninas Septemthillis, da Eslováquia para uma série de 10 concertos em 5 estados do Brasil em conjunto com nosso Coro Feminino Cantilena. Neste projeto tínhamos dois grandes desafios de “blend”:

  1. Nosso coro, como todo coro brasileiro, era formado por vozes heterogênas em aspectos como faixa etária, conhecimento musical, timbre, referência vocal, tínhamos cantoras que haviam sido orientadas por nós e outras que já estudavam canto com diversos professores de escolas e técnicas diferentes. Aplicamos todas as atividades que sugerimos acima para conseguir o “blend” desejado.

2. Depois de trabalhar o som do nosso coro era necessário prepará-lo para cantar com um coro vindo de uma escola coral do leste europeu, com cantoras de outra faixa etária, que receberam educação musical e vocal desde a infância na mesma escola, com a mesma orientadora vocal. Tinham, além de excelente referência de sonoridade, pois viviam num país com forte tradição coral, a experiência de vários festivais e competições internacionais. Mais uma vez estávamos com um grupo heterogêneo que precisava soar como um coro homogêneo!

Assista o resultado:

Em nosso canal no YouTube você pode assisitir o resultado deste trabalho e ver como trabalhamos com outros de nossos coros utilizando as sugestões deste post!

Acesse pelo link em nossa barra de Redes Sociais no rodapé.

Agora é a sua vez! Mãos à obra para trabalhar o “blend” do seu coro!

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No próximo post vamos falar sobre algo muito importante para você regente!

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Até breve!

Sou Lana Bernardes, maestrina

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Tive minha primeira experiência com a regência coral aos 11 anos no coro juvenil da igreja, numa substituição de emergência. Depois daquele, muitos outros finais de semana vieram em que tive que responder: “Não posso sair…tenho ensaio!”. Durante esse tempo construí minha experiência como coralista e regente, investindo na minha paixão pelo canto coral. Sou formada em Regência Coral, uma das fundadoras da Academia Concerto, onde tenho a oportunidade de treinar e ajudar pessoas comuns a chegar aos palcos e até representar o Brasil em Festivais Internacionais. Atuo ainda como Empreendedora Digital e sou especialista em levar seu coro ao próximo nível, sem perda de tempo e com qualidade!

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11 comentários em “O som do seu coro é um “blend” de vozes!

  1. Parabéns, Lana. Somente com este texto já temos muito trabalho com o coro! Obrigada por compartilhar! Jucilene Buosi, Poços de Caldas/MG

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